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quarta-feira, 26 de maio de 2010



Neil Gaiman - "Sandman": Edição 12 - p. 19 

Uma pergunta à mim

Me disseram que eu não era poeta.
Nem poetisa.
Perguntei-me porque me disseram aquilo.
Eu fiquei tão triste, uma tristeza tão profundamente
triste, uma tristeza tão sem som, sem ritmo,
que decidi escrever um poema para pessoas como
eu, que não são poetas ou que não são poetisas.
Toda minha vida acreditei, toda minha vida vivi acreditando
que, bastasse eu acreditar no desacreditado, que nasceria 
um poema como que nascem estrelas no céu.
Me senti um detrito, como detritos são: jogados, entulhados,
desgastados, sequelados, esquecidos, destruídos.
Virei-me cinzas, escolhi para mim o renascer nas palavras.
Não quero poemas decássilabos ou teorias-terroristas:
- quero a poesia como é, como o sonho que é, como a
arte que é e como a liberdade - que foi, que é e que será, aquela
que inventa - passado-presente-futuro, vida que é vida, vida.

(Thaynah Leal)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Velhice

Para que prozear sobre a novidade,
tão certo e cedo ela virá e se irá,
como o vento que trás a chuva e 
como a chuva que cai no Pacífico.


Certamente sei, incertamente duvido,
tal qual a audição que se perde,
e a visão que se esvai, elevando
para bem longe nas linhas do precipício
tênue e limiar da vida e da extinção,
nossa verocidade cerebral, nossa
racinalização banal.


Morrer também é viver em demasia,
ou tu não te lembras da última vez em 
que morreste, fôra a alguns segundos,
como quem não quer nada, como o nada,
alguém quer.


Eu morri muito hoje e morri bem,
deixei sepultarem-me porque me convém.
Também sepultei tantos outros, oxidando e
oxidando.


Sou humus, passar do tempo, psicossomatismo, abstração.


(Thaynah Leal)
-A dança da psique-
[Augusto dos Anjos]

A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombam, cedendo à ação de ignotos pesos!

E então que a vaga dos instintos presos
- Mãe de esterilidades e cansaços -
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos

Subitamente a cerebral coréia
Pára. O cosmos sintético da Idéia
Surge. Emoções extraordinárias sinto

Arranco do meu crânio as nebulosas
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!

terça-feira, 18 de maio de 2010

"Diz, quem é maior que o amor?

Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora

Vem, vamos além
Vão dizer, que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela vai cair"

[los hermanos - conversa de botas batidas]

sobre eu ser

O grande problema de definir quem somos é querermos uma resposta definitiva. Não é como se nós pudéssemos obter uma resposta imediata e eficaz no presente. O que somos pertence ao plano futuro, plano de mais pura invenção - constante. Somos mais do que o somatório do que fomos, somos também o que podemos ser e o que seríamos, somos a metamorfose, o casulo e a borboleta. Chega de metafísica! Somos putrefação linear de carne, ossos e sangue. Denegrindo e agredindo o cérebro, em constante evolução rumo às cinzas finais e aos vermes que nos auxiliarão a virar adubo. Somos também nossa velhice - e que velhice!
E como se não bastasse a nós mesmos e já nos pesasse ser o que somos e ser quem somos, em tempos que somos o mundo e este não o é conosco... temos o outro - outra essência, identidade, outro qualquer-outro - que nos afronta, que nos é tão diferente, tão odiosamente insolentes.

Viver é incômodo.
Ser é revolucionário.


(Thaynah Leal)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ybáca (ou "céu" em Tupinambá)





faltou luz e ela saiu pra rua, ia olhar o céu.

sem os postes de luz acesos, ela deslumbrava
o firmamento de maneira absoluta e voraz.
ela odiava o fato de que as luzes dos postes
obscurantavam o brilho do céu.

ela agora era só paz. ela agora era só céu.
tocando cada estrela com a mente, ela sorria
um sorriso enigmático, feito de pó de liberdade.

a luz voltara e sua melancolia, idem.
ela queria que a luz faltasse mais vezes...
mas, ela sabia que o preço do progresso
era a perda do céu para estrelas falsas 
em hastes de metal e nuvens falsas,
cheia de gases letais para o pulmão e o
coração do ser humano.


(Thaynah Leal)

chuva e absurdo cotidiano

Balde dágua

Calheta dágua

Nuvem dágua

Telhas molhadas

domingo, 16 de maio de 2010



"I lay on the floor
They asked me what I do tonight
It answers:
Search for the moon
."


[Soap&Skin - Sleep]
"O que macula o homem é aquilo que sai de sua boca
 - não o que entra."


Prende a semântica nos dentes,
impulsiona a vontade com tua língua:
- a inteligência agride a ignorância 
[sem piedade.

O teu silêncio inconformado
regurgita em teus olhos;
tua sabedoria vã te limita
a viveres como um deus.

Cuspa nessa estátua:
- ela é o cavalo de um deus.
A centelha que renegas em ti
[a ínfima:
- essa é o deus.

Corra da sabedoria, agrida a ignorância
com tua inteligência.
Prende firmemente a semântica
em teus dentes e impulsiona tua vontade 
[com a faringe.
Deus ainda agoniza.

(Thaynah Leal)
"If you ask me "what is love", I will tell you, certainly, that love is like a coat that we forget at someplace we went. We just notice that we had lost it, when we open our door house. Few notice this at the bus. A lot of people, never go back to pick up the coat. And the life goes on and on, and the love reborn everytime when we feel cold."
(Thaynah Leal)