Páginas

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Entrelinhado

O que escrevo é reto.
Prosa prosaica.
Entrelinhado com o caos.
E o que eu também escrevo
é poesia:
ornamentado com o infinito sob nossos pés.

domingo, 23 de outubro de 2011

A morte foi sua mãe





Ao som de Open Your Eyes, eu deixei sair o sentimento que estava reprimido há tanto tempo em mim. Aquela nostalgia naufrága contemplou o oceano de tristeza que havia ao redor da ilha solidão. Não havia outro jeito de sair da ilha, a não ser nadar por aquele oceano de tantas lágrimas tristes de inúmeros acontecimentos dolorosos do passado. Ela se perguntava como havia se exilado por tanto tempo naquele lugar. Ela mesma sozinha tinha chegado a nado e agora, era a hora de partir novamente, seguindo o rastro do sol que insistentemente nascia no horizonte, avisando que estava na hora. Ela não conseguia mais chorar, apesar de ter tanta vontade de. Tomou fôlego e começou a jornada pelo oceano. Deixou a ilha da solidão para trás, em busca de afogar-se nas tristezas de morrer. Ela sabia que precisava. Então, depois de mais de meia-hora de nado, com o corpo dormente, ela finalmente afogou-se. As águas de tristeza invadiram seus pulmões, suas entranhas. Ela morreu em 5 minutos. Não houve um passe de mágica para salvá-la, não houve uma boa fada, ou um anjo qualquer. Só ela e a tristeza dela. A morte foi sua mãe. Recebeu-a em seu seio, como receberia um criminoso, um padre, uma criança. Envolvendo-a em seu braços, um bebê, disse: Eu também sou o milagre da renovação. Você vai morrer de novo. Sofrer de novo. Chorar de novo. Amar de novo. Ter fome de novo. Mas também você viverá: E isso é uma vez só.

domingo, 25 de setembro de 2011




do sonho ao anoitecer
começam as chamas
que se apagam.

ao subir da noite
e ao descer do dia
aleluia descrente
e uma sinfonia.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

cinzas

deixe a liberdade se encarregar das pessoas,
que a mudança sempre virá:
algo se vai,
alguma coisa fica e
ninguém nunca entende nada.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

existir não é ser

cada palavra que forma sentido de frase ou que não, substantivo substância, verbo ressoante, adjetivo restritivo, pronome substituto, preposição gostosa, cospe na cara da proposição escatológica do existir.
cada poema, verso, retrocesso, cabaço, balaço, terremoto, furacão, nascimento, encerramento, espetáculo, musical, explosão, assassinato, incêndio, pedinte-doante, etecetera e tal, é uma coisa que nem existe.
não há, mas é.
é e não existe, existir não é.
existir é apenas existir.
existir não é.
ser é.
ser pode existir ou não.
saci existe?
não deixa de ser saci.
deus existe?
não deixa de ser deus.
amor existe?
não. mas é amor.

ser é imprescindível, inadiável, impostergável, impreterível, horrível, insensato, impensado, inescusável, imprestável, inútil, absoluto.

ser não precisa de acreditar.
ser não precisa de nada: basta ser.

tenho medo do que existe e não é: como pode ser?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Eu sabia

eu sabia que estrela nascia sem a gente ver,
sabia que o beijo também nascia sem a gente ver
e sabia que a poesia nascia sem a gente ver.

eu sabia que a escuridão nascia sem a gente ver,
mas que no fim quando eu te encontro sentado na cama
do quarto, de olhos fechado sem me ver,
é que no silencio com o amor que tinha nascido,
sem a gente ver, porque o amor também é cego.

As grandes aspirações medíocres

Escrevera o sumo da sabedoria vulgar,
lexemas banhados pela mais pura moral,
elevados ao mais alto patamar da filosofia universal,
com o sangue das prostitutas que deflorara em pensamento.

Desenhara o mapa do conhecimento secular,
com ferramentas nazistas de tortura,
delineara toda boa educação,
com todas a tintas da asneira.

Vivera em mais estúpido subalterno sentimento de vazio,
contrariando todas as leis da natureza violenta,
ordenando a cada um de seu covil,
que dançasse em agonia parasitária.

Fora um filósofo do horror,
descrevera como ninguém a própria estupidez,
negara a si o direito da vida,
justamente porque tinha uma náusea de morrer:
era um pobre ser assustado demais com a própria insignificância,
coisa que qualquer criança,
já passara a esquecer...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

De mim

objetivamente, não sei quem sou.
subjetivamente, há todo um mistério curioso.
pinga uma palavra aqui, escorre outra por a cá,
se é de poesia, não precisa umidecer.
deixe que queimem,
que rasguem e que atropelem.
deixe que berrem: amanhã o dia já veio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

casca de ferida

E a palma da mão sofrida bate, bate a alegria do que rege e vira pó,
Deus tão perdido nessas matas, ouve só o canto daquele rouxinol,
mil olhos para formar uma só lágrima, um só pranto que formou o mar,
o céu infinito sobre as águas, a águas, infinitas, tardam não chegar.

suspirou, sem querer dançar a vida,
a metamorfose morreu,
me dá a tua mão na esquina,
dente de criança cresceu.

um mistério do meio dia, sangrado pelo chão,
couro, unhas, cabelo.
e uma casca de ferida a coçar...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

sibila assobiando

Sibila acordou dentro do sonho, como quem quisera nunca dormir: jamais ela pensara em adormecer. Todavia, ela não encontrava motivos para pesadelos, era uma pessoa que não se permitia jamais indispor-se consigo mesma.
Dentro do onírico e tênue realidade que se apresentava, ela dispunha de tesouras críticas para cortar os véus que lhe sucediam na evitância de pós-promulgar uma afirmação quase inventada: o mundo não era apenas uma vontade de representação, ele forçava um diálogo mental, espiritual e ausente de tudo e de nada. Sibila desconfiava que ela mesma fazia parte de alguma coisa, que ela era um pedaço que tinha vontade de potência de ser e ser vontade de potência de.
Caracterizava o mundo de mistério toda vez que rebentava um segredo, as coisas só tinham sentido porque ela os dava, porque ela os criava, apesar de nem sempre perceber e se perder - quem sabe? - nessa criação.
Mas esta coisa de perder-se não é para todos, só quem conhece bem o labirinto de si é capaz de entender o que se dá com Sibila quando ela ouve uma música.
Essa história de abismo, de superfície e de solidão saiu da idéia de ter medo da vida, tal coisa irracional não se sucede aos demais animais da natureza, só ao ser humano, e essa coisa meio que Sibila não entende o "porque": Sibila ama a vida e a morte como se fosse morrer de tanto viver.
Ah, e Sibila vive os próprios sonhos porque a idéia que veio da coragem dela foi que ela pode até perder tempo, mas, só se perde a vida uma vez e há quem diga que ninguém nunca encontre-a de novo - Sibila vive intensamente.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Dos de espírito vazio
















Há pessoas que são muito boas em simulacros: Vestem bem qualquer roupagem que lhes agrade e se põe a ludibriar os tolos! Mas eu, que sigo meu próprio coração, sei olhar bem entre as frestas. Há aqueles que são tão vazios que o amor neles só é capaz de demonstrar o ressoar do nada que são: Então eles ouvem e choram em silêncio. Então eles perdem a máscara de outrora, precisam da vida dos outros para viver e da morte dos outros para morrer. Tudo querem tocar, porque não tocam a si mesmos. Ah, estes vazios-d'alma são estéreis: perpetuam o vazio de si nos demais, são nulos, mornos - vomitáveis.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Do amor

O amor não existe: não é uma mentira ou uma verdade, ele simplesmente não existe.
Não adianta procurá-lo em si ou nos outros, não adianta procurá-lo nas coisas ou em deus(es).
Não há amor: o amor é.

terça-feira, 22 de março de 2011

Outro post qualquer (ponto).

Seguindo o exemplo de GaDêLhA, resolvi falar, berrar, vomitar: blaaargh.
Essa coisa de data, ano, começo e fim é tudo inventado - começo logo xingando quem inventou o calendário! Esse é o meu jeito saído do lixo de ser, sempre fui assim: uma escrotinha. Lembro que na 4ª série fiz minha primeira aparição de líder natural, guiando meus colegas rumo à "revolução das cocadas", coisa de pirraia: eu me ivoquei com a professora que havia exarcebado sua autoridade e tinha "metido a mão" nas nossas cocadas e comido-as sem permissão. Bem, foi uma causa justa na época, eu e a galera estávamos com fome, rsrsrsrssss.
Eu sempre fui a esquentada, a ivocada, a que brincava com os meninos de futebol, de porrada. A menina que dava pirueta, que subia em árvore, que comprava caldo de cana escondido. Eu era a menina-menino, ia do aserehê a beyblade na velocidade de um meteoro de pegásus....
Bem... agora falando a minha vida amorosa, eu acabei de sair de um relacionamento sério, que durou três longos anos (17 aos 20). Olha, pra quem me conhece sabe que eu sou o "capeta" que assistiu um culto. Que ainda sou virgem, isso não é segredo. Eu me desiludi, aquele amigo meu que eu amava, "não me ama mais", me deixou e ainda levou minhas coisas (Nietzsche!). Eu vivo numa época em que meu coração está em mil&um cacos. Eu sinto "medo" de quem outrora amei, está desfigurado - desfigurou-se! Não se reconhece...
Eu tô seguindo em frente, ainda pulsa em mim aquela menina, que tá virando mulher, mesmo que ensanguentada da queda. Mas, que mulher é mulher e não sangra?
Meu ano começa quando eu disser que começa. E essa bexiga já começou.
Fecho os olhos agora, e tudo me passa a rodopiar, numa enorme ciranda da minha vida: meus irmãos e irmãs, o grand-finale ainda está por vir. Segurem suas perucas, deixem seus narizes no ponto! Neste circo da vida, o bom palhaço não chora, vai embora sem explicar!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Meu coração bate em meu próprio ritmo, numa intensidade que só eu sinto. Coloca tua mão sobre meu peito, adivinha como pulsa o inquieto! Ah, se nós desconfiássemos que cada segundo de vida é a mais pungente batalha perdida contra a morte, faríamos do silêncio nossa casa-jardim com um telhado de sol...

Eventualmente, as coisas se desfazem: frases viram livros, choros viram mares.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Das Horas

faltam-me palavras: a vida ela mesma tirou-me todas!
despiu-me e lavou-me, mandou-me continuar a caminhar. disse-me em alto e bom tom: "vai, segue a minha vereda - a vereda da vida!
sou vida - a vida - mulher que só se dá a guerreiros! sou inúmeras coisas:
dor, poder, amor, raiva, sabedoria, prudência, imundice! sou a morte crua!
eu rio de mim mesma, e tu também irás rir de ti! canoniza teu riso, mostra-me teus dentes!"
surpreendi-me com esta mulher tão cheia de si, forte em demasia, capaz de dizer-se morte....
então, ela contou-me um segredo: "tens vida? então virás a ser! ser é imprescindível, mais até que existir! podes dizer que um deus que não exista, deixará de ser um deus pelo simples fato de não existir? ouça, para que eu - a vida - não tenha que repetir: tens vida? então virás a ser! segura tua própria mão, e não solta! porque existir não é necessário! ser é."
e foi assim que cantou a vida para mim.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A vida pode ser definida por três verbos no infinitivo:
Nascer, Viver e Morrer.
Muitos pensam que o grande "mistério" é Morrer, pois não sabemos o que acontece do outro lado, outros, porém, afirmam que o grande mistério é Viver, pois não sabemos para onde vamos e nem de onde viemos.
Mas o meu mistério mesmo... é Nascer.
(continua)*

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ybáca e o Apagão

Ybáca retornava à sua casa por volta das 23h, quando houve o apagão. Ela achou maravilhoso o fato de subir as escadarias em completa escuridão, sentiu-se infinitamente nua e excitada a cada degrau que percorria. Apenas somos senhores e senhoras de nós mesmos frente a escuridão que nos cerca, embora nós estranhamente tenhamos hasteado pseudo-estrelas em postes. O céu do universo era profundo como o ventre metafísico da criação, não havia nenhum deus lá, só as trevas e a sensação. Ybáca subiu vagarosamente, como mulher que sentencia o pênis a adentrar em sua vagina - porta de entrada e saída triunfal do profano nascimento - vida. Suas pernas tremiam em êxtase, pois ela não podia ver onde pisava, tal qual fazem os incautos moderadores da vida, que se esforçam continuamente em explicá-la e doutriná-la para uma "força", uma "superação", quando de fato a força e a superação é a própria vida. Quando Ybáca chegou à sua casa, abriu a porta e foi tomar banho, estava toda suada e gozada da escuridão. Não houve eletricidade durante cinco horas, e foram as cinco horas mais bem dormidas de Ybáca: pós coito consigo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ego

Eu sou filha de mim.
Criada pela revolta,
pela anarquia,
pelo coração do mundo.

Eu sou filha de mim:
meu ventre a mim pertence,
seus frutos ao mundo pertencerão.

Eu sou filha de mim,
do meu sangue, do meu osso,
da minha carne e de meus pensamentos.

Nunca conheci ninguém que se pertencesse tanto quanto eu me pertenço. 
Meus pais me fizeram, mas, eu sou de mim desde que nasci.
Eu me possuo: -- Eu... sou filha de mim.

sábado, 29 de janeiro de 2011

E a finalidade da vida é a própria vida. Não deve haver mistificação nesse ponto de chegada ou nesse ponto de partida. São cinco sentidos vinculados a um cérebro, um órgão vital para o processamento de informações subjetivas ou objetivas.O cérebro também confere uma possibilidade de criação, um enorme diálogo sensorial que estabeleceu e estabelece um consensus e juízos de valores que provocam interlocuções, inclusive com a ausência - o silêncio também fala. É mister não atribuir à vida valores discrepantes: Essa coisa icônica, metafísica, que transforma a vida numa penitência da liberdade, um pagamento a uma dívida que nunca existiu. Ninguém precisa "pré-pagar" a vida. Ela é sua finalidade, uma explosão Severina, um fio, um rio. Porque "viver é ir entre o que vive."

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Foi assim que começou, da mesma maneira que terminou: Uma vereda difícil.
Não foi amor, foi amor. E quem saberia ou jamais saberá?
Aquela garota tem lágrimas do lado de fora de seus olhos, seus desesperos são vivos.
Aquele garoto tem lágrimas do lado de dentro de seus olhos, seus desesperos são inventados.
Ninguém vai julgá-los e talvez sofram.
Mas, quem sabe as partes são maiores que o todo e eles dois fiquem bem?

Ah!, aquelas estrelas de Mário que se acenderam no universo com medo da escuridão...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Não é um segredo

Há tempos descobri que não há sentido na vida e, posto que talvez a sua ausência - a ausência do sentido - seja imprescindível para se criar um sentido ou criar-se uma nova maneira de se viver - sem um sentido - tenho deliberado uma vida inventada, uma criação minha particular, uma transvaloração de morais e sentidos. Não tenho desejado mais a verdade em contraste com a mentira, não tenho desejado mais a vida em contraste com a morte. Tenho construído um novo ser-eu que serei. Tenho me descoberto e me amado cada vez mais e tenho descoberto também os outros que posso amar - muito embora sem descartar a dor dessa escolha. Se o ser precede o pensamento, e que o pensamento precede a existência, e que alguma coisa mais preceda qualquer coisa, eu tenho precedido eu que jamais me precederei novamente. A morte é uma tão dedaliana quanto a vida. Eu caminho em sua corda bamba, pendendo para vida e para a morte. Sem mais questionamentos, faço frente ao enigmático mistério da existência - pela primeira vez - não em busca de respostas ou de perguntas: pela primeira vez, eu contemplo o mistério por ele mesmo, pela sua beleza, pela sua função de sê-lo inequivocadamente -- inescrutável. 
(tls)