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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Das Horas

faltam-me palavras: a vida ela mesma tirou-me todas!
despiu-me e lavou-me, mandou-me continuar a caminhar. disse-me em alto e bom tom: "vai, segue a minha vereda - a vereda da vida!
sou vida - a vida - mulher que só se dá a guerreiros! sou inúmeras coisas:
dor, poder, amor, raiva, sabedoria, prudência, imundice! sou a morte crua!
eu rio de mim mesma, e tu também irás rir de ti! canoniza teu riso, mostra-me teus dentes!"
surpreendi-me com esta mulher tão cheia de si, forte em demasia, capaz de dizer-se morte....
então, ela contou-me um segredo: "tens vida? então virás a ser! ser é imprescindível, mais até que existir! podes dizer que um deus que não exista, deixará de ser um deus pelo simples fato de não existir? ouça, para que eu - a vida - não tenha que repetir: tens vida? então virás a ser! segura tua própria mão, e não solta! porque existir não é necessário! ser é."
e foi assim que cantou a vida para mim.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A vida pode ser definida por três verbos no infinitivo:
Nascer, Viver e Morrer.
Muitos pensam que o grande "mistério" é Morrer, pois não sabemos o que acontece do outro lado, outros, porém, afirmam que o grande mistério é Viver, pois não sabemos para onde vamos e nem de onde viemos.
Mas o meu mistério mesmo... é Nascer.
(continua)*

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ybáca e o Apagão

Ybáca retornava à sua casa por volta das 23h, quando houve o apagão. Ela achou maravilhoso o fato de subir as escadarias em completa escuridão, sentiu-se infinitamente nua e excitada a cada degrau que percorria. Apenas somos senhores e senhoras de nós mesmos frente a escuridão que nos cerca, embora nós estranhamente tenhamos hasteado pseudo-estrelas em postes. O céu do universo era profundo como o ventre metafísico da criação, não havia nenhum deus lá, só as trevas e a sensação. Ybáca subiu vagarosamente, como mulher que sentencia o pênis a adentrar em sua vagina - porta de entrada e saída triunfal do profano nascimento - vida. Suas pernas tremiam em êxtase, pois ela não podia ver onde pisava, tal qual fazem os incautos moderadores da vida, que se esforçam continuamente em explicá-la e doutriná-la para uma "força", uma "superação", quando de fato a força e a superação é a própria vida. Quando Ybáca chegou à sua casa, abriu a porta e foi tomar banho, estava toda suada e gozada da escuridão. Não houve eletricidade durante cinco horas, e foram as cinco horas mais bem dormidas de Ybáca: pós coito consigo.