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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Da vida

“Toda consciência tem por objetivo a morte de outra.” (Hegel)

Eu não queria ser refém das circunstâncias que eu não posso escolher, eu queria ser variável livre e desimpedida. Agente autonôma de minhas escolhas, são caminhos que eu posso seguir. Entretanto, há pessoas que não nos dão escolhas que queríamos, elas nos limitam ao que elas mesmas querem, como uma tortura chinesa - incompreensível aos húngaros - pois o idioma é diferente. Mas, a dor que se sente sobre seu próprio cativeiro é terrível. Quando a salvação está distante pelo tempo, esperar é o que resta. Minha vida tem que esperar pelo fim da vontade alheia. Eu queria me livrar de tudo que não me convém, as responsabilidades que não são minhas, quero viver meus desejos abertamente. Eu cerro meus olhos, penso se poderia ter escolhido algo que pudesse ter alterado o agora que vivo, em vão, descubro que não. O sabiá que cantou na minha janela está morto e eu também, um dia, estarei morta. Mas, me pergunto se alguma vez terei cantado alguma canção que fará com que se lembrem de mim, mesmo que eu esteja morta. Tenho preguiça de sofrer e por isso sofro devagar. Eu podia ter sido bailarina. Sempre fui um exemplo do erro, do que não deveria existir. Sempre fui o exemplo do extradiornariamente bizarro, aquilo que deveria ser julgado e eliminado. Uma excentricidade da natureza é o fato de que eu sobrevivi nas piores circunstâncias, eu me alimentava delas. Eu tinha as letras dos livros pra fugir, aprendi isso muito cedo, eu sempre tive que fugir. Eu, um pequeno verme ao lado de titãs exasperados, prontos para pisarem-me. Nasci verme, cresci verme. Os grandes titãs pisaram uns nos outros, ficaram velhos, eu só queria me afastar de sua grandeza que sempre me afligiu. Sempre na iminência de ser pisada, parecia ridículo cada momento de sobrevivência. Eles não me ouvem, sou esquisita. Sempre inadequada, sempre fora do lugar. Não tenho um lugar pra ir, não tenho um lugar pra ficar. Um dia, eu quero me afastar dos gigantes titãs e quero ficar quietinha, talvez eu vire uma borboleta, não quero ser um verme para sempre. Se eu pudesse voar bem alto, os pés deles não me alcançariam nunca mais.

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