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terça-feira, 15 de junho de 2010

Sobre o ser mulher - parte I





"Revolto-me, logo existo."

Albert Camus


Se as pessoas ainda criticam o feminismo, foi porque pouco o entenderam. Se, as próprias mulheres ainda não entenderam o feminismo, foi porque ainda pouco o criticaram. O feminismo, em sua verdadeira essência, não existe para aniquilar o homem - enquanto ser humano - ou promover uma supremacia feminina no mundo. O feminismo é uma contestação da moral e do julgamento de valores que exercem predominantemente e inconscientemente influência nas nossas vidas. É fato conhecido de todos nós que existe uma discriminação misógina no mundo como um todo, quer isso seja ou tenha sido provocado pela cultura do próprio país, isso foi criado através de uma leitura de mundo equivocada: o machismo em si, é uma tolice. A cultura esconde as partes diferentes dos seres humanos, impondo um tipo de comportamento cheio de estereótipos e segregando os comportamentos alheios à esse mesmo esteriótipo estabelecido. Como influência, temos a predominância de certas religiões que centram o poder de suas células no homem, sexo masculino, e tratando a mulher, sexo feminino, como complemento - um adjunto, um termo quase-não-essencial.
Para poder entender esses valores que foram sendo repetidos exaustivamente durante centenas de anos pelas culturas humanas, é preciso ter um bom domínio sobre a história da humanidade. Porém, fazê-lo na contemporâneidade é também atribuir à história antiga um julgamento de valor. É preciso utilizar, também, a crítica em si próprio e antes de olhar para trás, observar o nosso próprio tempo. Retomando uma sentença de Sartre, ele nos diz que "Não é o que fazemos de nós, mas sim o que nós fazemos com aquilo que fizeram de nós...". Isso me parece razoavelmente aplicável em nossa situação: Será possível que uma mulher que realiza um mesmo trabalho que um homem, tenha que receber um menor salário porque apenas é mulher? Será que um homem não pode ser um bom "pai-mãe" só porque é apenas um homem? Esses exemplos superficiais servem apenas para ilustrar o quão arraigados em nós estão esses preconceitos - no sentido pleno de conceito pré-estabelecido - e o quanto os utilizamo-nos deles sem pensar. Por que um enfermeiro é um médico frustrado? Porque um arquiteto é tido como um igualmente frustrado engenheiro? 
Assistindo ao filme "Brüno", interpretado pelo ator e historiador Sacha Baron, onde suas linhas de pesquisa são sobre os preconceitos do mundo atual, percebemos, claramente o que ele quer nos mostrar - com humor, diga-se de passagem:
O personagem é homossexual - gay. Por consequência, ele é austriáco. Ele trabalha com moda, ele usa gloss, ele apresenta um programa de tv, ele se veste diferente. Essas características foram suficientes para determinar sua discriminação.
Quando se nasce do sexo feminino, sofre-se uma proteção automática: você tem que estudar, você tem que chegar cedo em casa, cuidado pra não engravidar, não tenha muitos amigos homens, lave o cabelo com shampoo, pinte as unhas, faça xixi sentada.
Querer igualdade não tem nada a ver com imbecilidade ou falta de educação de ninguém. Igualdade de direitos não é "foda-se, façá só". As pessoas sabem de algumas coisas e não sabem de outras. Ponto. Você tem direito a ser respeitado em suas limitações, e não discriminado. Você tem o mesmo direito de ser diferente, assim como o outro tem o mesmo direito. Você tem direito de reclamar de algo que não goste, caso você queira expressar sua opinião e tem o direito de ser ouvido(a). Igualdade de direitos geralmente é entendida de maneira equivocada. Se você tiver com a mão cheia de coisas e for um cara, eu te ajudo, eu abro a porta pra você. Então, sua mão não vai cair se você fizer o mesmo. Você não tem a obrigação de me servir, meu bem. Você só faz se quiser, se achar que a pessoa em questão - homem ou mulher - mereça sua consideração para tanto.

Bem, essa é a  primeira parte de duas ou três. =)

2 comentários:

  1. Mulher é pra dirigir fogão!... "cabelos longos, ideias curtas" :D uahsuhas, calma só brincando! :)

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  2. "Se você tiver com a mão cheia de coisas e for um cara, eu te ajudo, eu abro a porta pra você. Então, sua mão não vai cair se você fizer o mesmo. Você não tem a obrigação de me servir, meu bem. Você só faz se quiser, se achar que a pessoa em questão - homem ou mulher - mereça sua consideração para tanto."

    Essa parte resume tudo. Ótimo texto.

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