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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Da vida

“Toda consciência tem por objetivo a morte de outra.” (Hegel)

Eu não queria ser refém das circunstâncias que eu não posso escolher, eu queria ser variável livre e desimpedida. Agente autonôma de minhas escolhas, são caminhos que eu posso seguir. Entretanto, há pessoas que não nos dão escolhas que queríamos, elas nos limitam ao que elas mesmas querem, como uma tortura chinesa - incompreensível aos húngaros - pois o idioma é diferente. Mas, a dor que se sente sobre seu próprio cativeiro é terrível. Quando a salvação está distante pelo tempo, esperar é o que resta. Minha vida tem que esperar pelo fim da vontade alheia. Eu queria me livrar de tudo que não me convém, as responsabilidades que não são minhas, quero viver meus desejos abertamente. Eu cerro meus olhos, penso se poderia ter escolhido algo que pudesse ter alterado o agora que vivo, em vão, descubro que não. O sabiá que cantou na minha janela está morto e eu também, um dia, estarei morta. Mas, me pergunto se alguma vez terei cantado alguma canção que fará com que se lembrem de mim, mesmo que eu esteja morta. Tenho preguiça de sofrer e por isso sofro devagar. Eu podia ter sido bailarina. Sempre fui um exemplo do erro, do que não deveria existir. Sempre fui o exemplo do extradiornariamente bizarro, aquilo que deveria ser julgado e eliminado. Uma excentricidade da natureza é o fato de que eu sobrevivi nas piores circunstâncias, eu me alimentava delas. Eu tinha as letras dos livros pra fugir, aprendi isso muito cedo, eu sempre tive que fugir. Eu, um pequeno verme ao lado de titãs exasperados, prontos para pisarem-me. Nasci verme, cresci verme. Os grandes titãs pisaram uns nos outros, ficaram velhos, eu só queria me afastar de sua grandeza que sempre me afligiu. Sempre na iminência de ser pisada, parecia ridículo cada momento de sobrevivência. Eles não me ouvem, sou esquisita. Sempre inadequada, sempre fora do lugar. Não tenho um lugar pra ir, não tenho um lugar pra ficar. Um dia, eu quero me afastar dos gigantes titãs e quero ficar quietinha, talvez eu vire uma borboleta, não quero ser um verme para sempre. Se eu pudesse voar bem alto, os pés deles não me alcançariam nunca mais.

domingo, 19 de dezembro de 2010

vitória

A liberdade não é a vitória, a liberdade é um campo de batalha. Nós podemos fazer "paz e amor" nesse campo de batalha, ou podemos fazer "sangue e horror". As pessoas só deixam a liberdade quando morrem, pois morrer pressupõe vitória: todo o resto é vida. É luta.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sem cor de música

Para dizer o como eu me sinto;
para exprimir algo que me foge da razão
e do instinto.
Algo inexpressível, tão secreto de mim.

Esses são os sentimentos das borboletas,
a música de Dvorák que não me sai da cabeça.
Assim, assim - forte som musical -, um compasso
descordenado de uma música sem cor.

O sentimento, a imagem, a música, a palavra:
- significados que eu esqueço na hora de dormir, porque o sonho já é outra coisa.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

The Hours

"You live with the threat, you tell me you live with the threat of my extinction. Leonard, I live with it too."
(Virginia Woolf - The Hours)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Excepcionalíssima Missiva

Recife, 05 de Dezembro de 2010.


Sempre tive esta idade, muito embora eu, vez ou outra, tenha recordações de outros tempos.
Aprendi a forjar palavras muito antes dos cinco anos, e nesta época eu nem sabia ler o que eu mesma escrevia; pelo menos não ortodoxamente -- eu escrevia "abbacba" e imaginava ter escrito "há um céu pra todos."
Minha maior decepção fora com as nuvens: nunca pude tocá-las.
Mas eu secretamente ainda as adoro, um primeiro amor nunca é esquecido facilmente, apesar de.
Tempo!
Eu nunca soube também o que era o tempo e porque as pessoas viviam perdendo-o ou me mandando parar de perder uma coisa que nunca tive. O tempo para mim sempre foi absoluto mistério, e por isso eu sempre estava a espreita e me distraía de várias coisas, procurando por ele. Eu sempre achei que devia procurá-lo, mas, depois percebi que o tempo não é um velho caduco e que não precisa que lhe procurem, ele sempre aparece, o tempo é de ninguém.
Os velhos sim, precisam que nós os procuremos e lhes ofereçamos cuidados: eles já acharam o tempo deles.
Eu gostava de inventar nomes e sombras quando andava de carro. Gostava de ver as sombras voarem e fazer tudo aquilo que eu via nos desenhos animados, coisas que eu só puder fazer as minhas sombras fazerem. Ainda hoje, no ônibus, gosto de ficar em silêncio e ver as minhas sombras e suas piruetas: elas desviam de tiros que jamais eu conseguiria desviar, elas alcançam o alto dos edifícios onde eu jamais alcançaria, elas tocam as nuvens que eu nunca toquei. Minhas sombras não me assustam e eu não as assusto.
Tive que usar óculos só depois que eu os queria, depois que passei a usá-los voltei a querê-los. Agora escrevo palavra por palavra, certinhas e em seu lugar, mas, sempre me recordo do meu primeiro caderno com uma história ilegível, pois era agramatical. Hoje sei sintaxe, semântica e o escambal, porém, minha história mais original era a que só eu podia entender: tinha "aaddto", "etuvrt" e "abbacba", que não adiantava desmisturá-las, re-ordená-las ou embaralha-las novamente, nunca achariam palavra semelhante em nenhuma língua: naquela época infante eu tinha inventado a minha própria língua, com sua própria sintaxe e semântica: cada palavra podia significar o que quisesse, podia se inverter se quisesse e podia mudar de sentido sempre. Era assim que a minha escrita era livre e solta, podia escrever qualquer coisa e vir a ler a qualquer momento que a história podia mudar: não havia diferença entre o que havia sido lido ou o que eu ainda ia ler -- as palavras estavam lá pra contar infinitas histórias, de trás pra frente, de frente para trás.
E foi assim que eu cresci e alcancei a idade que eu já tinha. Mesmo que eu olhe para meu passado, sinto que ele poderia mudar tanto quanto meu presente ou futuro. O tempo continua de ninguém. Eu nunca mais procurei o tempo.
Sei que vou reconhecê-lo assim que encontrá-lo.
Tudo de bom para mim, vejo-te sempre n'eu.

Beijos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Para sempre, Yu Yu Hakusho!

A música fala por si só:

"O corre corre da cidade grande,
Tanta gente passa
Estou só
O vento sopra pelo campo,
E trás uma lembrança sua
Estou só (...)"

Orações Complexas

Toda reza complexa
deixa deus embaralhado:
Ou se fala simplesmente com ele,
ou é melhor ficar calado.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

No meio da cidade, há ordem e desordem.
No meio de mim, não sei o que há.

Medida do Beijo

Só aquilo que é importante é retido pelo coração, todo resto desimportante fica na mente: a cabeça é o playground das ideias, as dita-cujas sem razão. A senda do amor é a mais difícil de se percorrer, pois, é um caminho que dá voltas e que exige ao ambulante que o percorra de tudo aberto: cabeça, ombros, joelhos e pés.
A via crucis do amador - aquele que ama, ainda que não-profissional no que faz - é o andar descalço no escuro:
- porque fechou os olhos para beijar.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sal da Terra

Perseguir um sonho, talvez, seja torná-lo um pesadelo. Viver uma vida de sombras é necessário, só conhecendo o pecado pra saber reconhecer o que é bom. Ausente de dualidades e maniqueísmo, tentar viver uma vida apenas de razão é uma escolha inóspita. Há algo de milagroso na vida e na morte que nos concede dor e sofrimento e também outras coisas boas, das quais, na maioria das vezes, duvidamos. A filosofia explica como vivemos, como poderíamos viver e como poderíamos ter vivido. Porém, ela não explica porque duas pessoas estranhas se tornam íntimas e depois de íntimas, tornam-se estranhas de novo. Filosofia não é vida. Nem morte. Ninguém precisa saber andar para avançar em seu próprio caminho: além do bem e do mal, além de todo tempo e de toda impressão que se tem do tempo, tem uma coisa pequena, mesquinha, medíocre e fugaz que se chama amor. Amor foi uma criação humana que até os deuses tem inveja. Amor rima com rancor, mas, é algo que todo sofrimento não suporta: o amor é o sofrimento do sofrimento. E há tanta força nesse sentimento, que mulheres e homens tem o sentido além de suas vidas e mortes. Não há como dizer se em algum dia do passado ou do futuro - ou mesmo do presente - uma vez que tenha sido, que o amor tenha vencido a morte, ou o tempo, a distância, o mal, o bem, o descaso, a descrença, a fé, os deuses... mas, dá pra saber com certeza absoluta que, também nunca - nunca - em nenhum momento, que o amor tenha perdido o que quer que seja.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Geni

Aquela vadia canta mal, sua voz soa como uma gralha engasgada. Aquela vadia se veste feito puta, exibindo seu corpo que quer dar-se pra qualquer um, decotes e pouco pano. Ela não se dá valor, tem um vocabulário podre, cheio de palavrões e de pornografias. Ela bebe, fuma, fode, nessa ordem ou não. Ela degenera, ela agride aos olhos mais sensíveis, aos puritanos excitados, aos irmãozinhos com seus desejos mais sodômicos. Bunda, peitos, boca, buceta: ela fala, ela grita, ela geme, ela se depila, vai pra praia de fio-dental, ela não tem vergonha nenhuma, de nada, de ninguém. Ela é gostosa e bonita, o demônio da tesão, a libido encarnada. Ela dança até o chão, deixando tudo e o mundo pra trás, porque tudo está aquém dela quando ela rebola na micareta da classe média moralista que a deseja e a apedreja loucamente. Ela é perdida e é a própria perdição. Ela é incestuosa. Que nojo.

O nome dela é Geni, atira pedra na Geni, que ela é boa de cuspir.

A todos os filhos de suas putas que te chamam de puta, vez ou outra.


domingo, 14 de novembro de 2010

Rin Asano & Manji (Mugen no Juunin)



"Onde há censura,

nasce a rebeldia,
Onde há rebeldia,
habita a censura.
Nesta noite desoladora,
desta horda de gente repugnante."
[Mugen no Juunin (Blade of the Immortal)]

sábado, 13 de novembro de 2010

banheiro feminino

***
Começa na fila, aqueles apertos - o vestido, a bexiga, a sandália, o cabelo -, segura a bolsa, abre, enquanto não mija, retoca o batom, faz pose no espelho, pensa: "quero logo fazer xixi", sorri com um bocão, a porta abre - "sou a próxima" - entra, afrouxa o vestido e a calcinha, senta e relaxa. Mexe os pés dentro da sandália, solta um pouco as tiras, até o atrito do material sintético e sua pele natural cessar. 3, 2, 1 - 1 minuto e meio sentada, na paz silenciosa entre ela, a privada, as paredes e o papel higiênico. Respira, arruma tudo de novo: calcinha, vestido, sandália. Abre a porta e sai, lava as mãos, seca-as, arruma o cabelo, enfeita os cílios como rímel, sorri e passa blush nas bochechas, apruma o lápis-de-olho preto e depois esfuma, dá o toque final com o perfume. Pronto.

----

"Por que você demorou tanto?" - diz ele, com cara de cínico deslumbrado.
"Ah, foi só a fila..." - responde ela, com cara linda.


domingo, 7 de novembro de 2010

Réstia


Me afogo nesse céu sem estrelas e na vastidão traiçoeira do universo. Olho para o oceano interminável e penso no meu próprio continuar: esse mundo gigantesco cabe dentro de mim, não seria errado reclamá-lo se não houvessem tantas pessoas nele que também podem tê-lo dentro de si. A natureza tem sua própria democracia, onde o homem acredita interferir, quando na verdade é o mais manipulado por ela. Eu sinto meu coração doer de maneira violenta e isso me faz bem, na medida que a dor me lembra da vida. Os deuses saíram de férias e esqueceram de voltar, porque queriam ensinar aos seres humanos que eles podem fazer várias coisas sozinhos, porém, esses deuses esqueceram de colar um aviso na geladeira do universo o que deixou as pessoas insanas pela seu regresso, achando que, como um filho que sai sem avisar, esses mesmos deuses morreram no caminho. Já que a tendência do milênio é o trabalho em grupo, tenho preferido as religiões politeístas em detrimento das monoteístas. Isso tudo é insensato – não faz sentido – disse bem Eclesiastes. Voltando ao meu afogamento, tudo o que meu eu lírico está contando é algo que está dentro de quem possui o eu lírico: teóricos, não quebrem a cabeça! Tudo que o eu lírico diz é ficcional, até mesmo todas as verdades escatológicas. Penso profundamente de novo na minha dor, sinto algo talvez inconfessável, mas, nunca inconfessável para mim mesma. Nunca tive o hábito de mentir para mim, eu sempre crio situações onde eu posso tanger a verdade sem mistérios ou pudores. Simplesmente estou cansada de buscar algo que deve sair de mim: eu busco um grito quando eu é quem devo gritar e nada mais. Nós temos uma vida miserável, nosso universo é cheio de trevas e teimamos em nos apegar ao fogo como única salvação. Errados estão todos aqueles que ignoram a própria luz, pois, nesse recinto galáctico de sofrimento e desgraça, mesmo com toda bruma no caminho e mesmo com toda a escuridão, a luz não passa de uma ilusão óptica. Iluminar é mais que dar forma, é estar de olhos abertos dentro do caminho que não se enxerga, pelo simples fato que é muito diferente “estar de olhos fechado e não ver” de “estar de olhos abertos, apesar da escuridão”: não há como saber o que é trevas até tocá-la com seus próprios sentidos. A nossa geração paga e pagará muito por ignorar os sentidos, toda essa aversão ridícula a dor e ao sofrimento com essas frases medíocres de “quero ser feliz” não diz o que realmente quer se dizer: “quero uma vida ordinária, sem sofrimentos ou tristezas. Quero a vida farta, sem preocupações”. Isso tudo é tolice, quem consegue viver com essa ilusão? Pessoas tem que morrer, você também terá. Pessoas tem que discutir, você também terá. É simples, tudo isso é a vida e não se pode escapar dela nem morrendo, porque morrer também é vida. Viver não se explica, caramba, se vive e pronto. Cada dia, dia-a-dia, pelo caminho difícil que ela é e – graça aos deuses – ela existe. As pessoas tem que agradecer até pela mentira que viverem, pois, mais importante que a mentira é a vida. Sinto uma tristeza inefável quando olho para mim, tentando estupidamente mudar o mundo, quando na verdade o mundo sou eu. Sinto uma lágrima metafísica escorrer pelos meus olhos, como se meus ossos chorassem minha sincera estupidez. Há muita coisa que eu tenho que fazer e nenhuma delas inclui desistir por levar porrada da vida. “Escreve com sangue e descobre que sangue também é espírito”, diz Nietzsche em seu Zaratustra, eu digo: “Quem procura um amor, quer ser amado. Quem procura o amor, quer amar.” É simples e é assim que eu termino esse texto.

certeza

quem busca um amor, quer ser amado.
quem busca o amor, quer amar.
não conheço nenhum outra utilidade para a dor,
além da que ela tem: doer.
quem não tem no peito um coração
jamais vai entender.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Do Sono

Dentro do ônibus eu podia imaginar tudo de maneira irrestritamente diferente: o tempo, a velocidade, as existências. Percorri tudo com os olhos e a trama bronzear neural, decidindo o que selecionaria para uma história. Um recorte da realidade não superficial que eu iria talhar, aos poucos, diante de uma máquina, letra por letra, sintaticamente ligados, semanticamente ilusórios.
A gota do suor descia pelo meu rosto, fazendo cócegas nas minhas bochechas enquanto o vento contra-janela fazia a gota esgueirar-se pelo meu pescoço. Não dá pra descrever isso aqui, passo para o próximo parágrafo.
As silhuetas dos transeuntes faziam conjunto com as paredes cotidianas das ruas, a as silhuetas das ruas, e a silhueta das silhuetas se mostrava.
Quando dei por mim, acabara de acordar no Cáis de Santa Rita: de boca aberta, sem nenhuma palavra, limpei os resquícios de saliva envolta da boca.
Ademais era hora de descer, caminhar pelas ruas e ser também silhueta de silhueta.

Para: frasear.

é um homem sozinho

com singela compainha de uma solitude
como solidão faceira
que chega, revoluciona e nos deixa só.


como enfretar o dia-a-dia, só?
só achar que se é forte por solidão,
então, você precisa de alguém que te queira : só.

Aí você quer tê-lo, talvez, e não mais só.
Junto. Conjunto...
Mais aí já é outro poema.

Pouco Suor

Não há pouco suor na vida,

Viver e viver é suar e suar.
Suar pra fazer menino,
Suar pra menino nascer.
Dar o quê de comer pra menino,
Se o suor não descer?
d'A vida de si pra vida de cá
É uma eterna sudoriparização:

- Escorre a gota?


Inda tá vivo, menino - viver é labutar.

Crônica da agonia de um afã

Mudar o mundo, casar, comprar o pão, trabalhar, viver, ir à praia, viver; responsabilidade, morr e viv: (s)er.
Um ser humano acorda, acha que está bom. Ele toma café, poderia ter sido melhor.
Sai na rua, pega o ônibus que, milagrosamente não está lotado: pois, ele está saindo do centro da cidade para o subúrbio.
Ele reflete, mais uma vez. Ele é rico, mas, tenta ser uma coisa melhor.
Esse ser humano trabalha numa ONG, se vê bem lá. Se é lá.
Então, ele fica alegre lá, junto dos pobres, dos miseráveis, dos desdentados, dos piolhentos, dos imundos, "homens carangueijos", homens carangueijos.
Ele é capaz de amá-los. Não ama a modelo da revista.
Ele também não é Jesus, está com a Maria, mas também com a Madalena.
Não há bom sem defeito.
Está de noite, um momento de solidão:


Terá que dormir em um apartamento caro, com a tv de lcd porque... dinheiro é um grilhão.

sentada sobre minas pernas

O tempo é a morte suscinta, é o vagar pelo caminho da vida oxidante.

Cada respiração, cada movimento peristáltico, cada sibilar de novas palvras:
- é de vida que se vive e, é de vida, que se morre.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Caledosópio II

criança matando o palhaço
é como um círculo que não roda
é como um círculo que não fecha
é comum.

desfecho entre panela e balaço
faz da vida o quiser
faz da rotina uma qualquer
fácil.

centelha! almeja! celebra!
segura firme uma verdade morta
abre um buraco, enterra
de cara pintada por nada
renega
sabe que no nada, a lei é criar.

só não sabe de que horas vai voltar.

domingo, 3 de outubro de 2010

O caderno de Joana







O texto que eu mais gosto escrito por Denis: O caderno de Joana

Esse texto, eu sinto, é um pouco sobre mim...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

I'm like a bird, I'll only fly away
I don't know where my soul is, I don't know where my home is
(and baby, all I need for you to know is)
I'm like a bird, I'll only fly away
I don't know where my soul is, I don't know where my home is
(All I need for you to know is)


[Nelly Furtado, "I'm like a bird"]

domingo, 19 de setembro de 2010

"Onde há censura,
nasce a rebeldia,
Onde há rebeldia,
habita a censura.
Nesta noite desoladora,
desta horda de gente repugnante."
[Blade of the Immortal]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"O homem branco, aquele que se diz civilizado, pisou duro não só na terra, mas na alma do meu povo, e os rios cresceram, e o mar se tornou mais salgado porque as lágrimas da minha gente foram muitas".



Cibae Ewororo - ou Lourenço Rondon, índio Bororó, de Mato Grosso.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Solidão

Quando se criam abismos entre fones-de-ouvidos, laptops, gosto musicais, problemas familiares, autores diferentes, opiniões diferentes, amigos iguais, graduações iguais, arrogância e muita dor - uma coisa quase óssea. Domingos perdidos, - "é dia de missa, é o dia de deus!" - sábados tristes, cabeças metidas contra parede por terceiras pessoas, daí existem também as verdades não ditas e as lágrimas que nunca se viu. Perdeu-se o caminho da ponte, - "perdeu-se o caminho da ponte, da ponte, do laço, da ponte!" - tudo que fica, tudo que ficou, - um eco de um amor passado - e saiu-se correndo da luz - "a luz nos matou!" - a luz assassina. Eu, somente eu. Queria você. Você não me quis. Queria eu. Sofri. Sofro. Suffering. A dor que se carrega é pesada demais para compartilhar, quando compartilhar torna a dor mais pesada. Eu nunca precisei de luz,- "sempre tive um sol desenhado do lado esquerdo do peito para não crescer nenhum baobá" - disse o pequeno príncipe para mim quando nos vimos pela última vez, em anos-carneiros. Dançava eu por entre os Cosmos, Thanatos dançava comigo. Fechei meus olhos.

sábado, 4 de setembro de 2010

Não fale de amor!

Querelas, parlengas poéticas!
Não me venha poemizar sobre amor
Não o admito a ninguém.


Adjetivos, hipérboles, extremunções!
Ao amor tudo é pouco, inalcançável,
imune à lágrimas e dragões.


Vergonha, desespero, sofrimento:
isto vem da racionalização do amor.
O amor é irracional, anti-razão:


porque se existem motivos demais para odiar;
para amar não se pode haver nenhum.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Lua vem da Ásia

"E aqui lhe rendo esta homenagem tardia mas veemente, no pleno silêncio deste quarto frio e povoado de trevas, tendo por quadro-negro esta parede onde a custo faço deslizar a ponta do meu lápis, já que a lua hoje não veio da Ásia e não consigo sequer enxergar o meu triste corpo ajoelhado na cama."


[Campos de Carvalho, A Lua vem da Ásia]

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

capítulos bruscos

I


"Escreve com sangue e descobre que sangue é espírito."
[Nietzsche]




- revoltante tu não acreditares em magia negra! é claro que isso existe!


- desculpe, não acredito mesmo. e nem sei se o espírito é imortal...


- louca és! arderás no inferno!


- também não acredito em inferno. deixe-me em paz em meus desacreditares.


- você não teve educação, não imagino como uma pessoa possa viver sem acreditar em deus, magia negra e inferno.


- e eu também não posso acreditar que uma pessoa viva carregando tudo isso nas costas e ainda reste tempo para ser feliz.







houve uma pausa, 1 segundo. milhares de centenas de pessoas piscaram os olhos naquele momento, em todo o mundo. a saliva secou, a poeira voou, a terra girou e nenhuma consciência mudou.

sábado, 31 de julho de 2010

"Chorar o leite derramado não é tão inútil quanto se diz, é de alguma maneira instrutivo porque nos mostra a verdadeira dimensão da frivolidade de certos procedimentos humanos, porquanto se o leite se derramou, derramado está e só há que limpá-lo, (...)"

[José Saramago - CAIM - pg. 40]

terça-feira, 20 de julho de 2010

Aos Amigos e Aos Inimigos

"Detesto quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer a verdadeira companhia."
[Nietzsche]


E é isso: .



sábado, 17 de julho de 2010

A crise pós-moderna

A crise pós-moderna é modelar o presente ao passado e condenar o futuro ao escárnio. Os contemporâneos rendem-se à crise do eu tridimensional, num desesperado ato subversivo contra a própria humanidade. Nunca vivi em outras épocas para saber o quão desumano o ser humano está agora do que ele já foi ou será. O solo clama que alguém abra um novo caminho para a humanidade, uma nova oportunidade de renovar-se. Fecho meus olhos, escrevo poemas, sangro poesia: escrevo com sangue mal traçadas linhas. Cuspo na terra, produzo um pouco de lama, ofereço ao caos...:


"Quanta é a verdade que um espírito suporta, quanta é a verdade que ele ousa? essa foi, para mim, e cada vez mais, a tábua para medir valores. Engano (- a crença no ideal -) não é cegueira, engano é covardia..." [Ecce Homo - Nietzsche]

quarta-feira, 14 de julho de 2010

8.

"Posso permitir-me a ousadia de insinuar ainda um último traço de minha natureza, que me apronta grandes dificuldades no convívio com as pessoas? É própria de mim uma sensibilidade completa e sinistra do instinto de limpeza, de modo que eu percebo fisicamente - farejo - a proximidade ou - o que estou dizendo? - as partes mais internas, as "entranhas" de todas as almas...

Eu tenho antenas psicológicas nessa sensibilidade, com as quais eu apalpo todos os segredos, me apossando deles:a imensa sujeira escondida no fundo de algumas naturezas, talvez condicionada pelo sangue ruim, mas caiada pela educação, eu já percebo quase ao primeiro toque. Se é que eu observei corretamente, essas naturezas insuportáveis ao meu asseio sentem - também elas - as precauções do meu asco: mas, nem por isso passam a cheirar melhor..."

[Nietzsche - Ecce Homo]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

I don't like to face problems. I would like to, but, maybe I'm not ready, sometimes.
Even when is important, I just pass it of. "Tomorrow i will solve this", I say. But, it never happens.
But, unusually, I can make milacres. I can shout and, loudy, say: "It's my life and I'm just being stupid. It's mine. I can do whatever I want."
So, I solve one of the less important problems. That's my way to begin. It's just hard, but deeply simple.

Arrogância Clichê


"Você não pode julgar ninguém. Quando você aponta um dedo pra alguém, aponta três para si mesmo!", Dizem os tolos, os amigos dos tolos e os tolos amigos dos tolos. Então, o apontador pensa: "É verdade! Não posso julgar ninguém!" Assim também os tolos transformam todos os julgadores em tolos. Eu não sou tola. Quando aponto para alguém, começo com apenas um dedo. Raras pessoas são dignas do segundo e nunca conheci uma pessoa que tivesse cacife para um terceiro dedo meu apontado. "Eu", meu caros leitores e leitoras, é quem aguenta os meus três dedos. Não sinto pena de quem deveria saber se defender, mas, sinto compaixão por aqueles que realmente não sabem. Quando escrevo, quando falo - apontando - não o faço com formigas, nunca. Faço contra ratos, gabirus, talvez. Meu dedo irá na sua parte mais resistente. Preste atenção: e acima de tudo, não me confunda.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

*



"Além das estrelas, depois da Lua e do Sol, após todos os planetas, no fundo do espaço sideral, encontrar-se-a o infinito caos. Há quem diga que é inimaginável e intangível chegar a tais recônditos. Quem isso afirmar por certo esqueceu do coração do ser humano e de sua imaginação. É que quando há um limite, é que temos a possibilidade de transgredi-lo. É que quando ultrapassamos a náusea, retomamos nosso pequeno lugar de céu: infinito. A canção do Caos é silenciosa. Sua dança é veloz, precisa, cheia de cores decadentes."

***


A menina avistou uma gaivota negra. Ela nunca tinha visto uma gaivota daquela cor. Segui-la era o que ela tinha que fazer. Ela fez, e achou a ponte para a casa de um deus do céu, com nuvens, estrelas e silêncio.






[créditos da imagem: Nene]

sábado, 19 de junho de 2010

Ela entrou naquela sala, mirou pela enésima vez aquela estante enorme, grávida de livros. Ela também estava grávida, gestante de uma enorme solidão que precisava parir - e partir. A gravidade sempre aumenta dez vezes o que a gente tem de massa. Isso nos finca no chão como pedra que somos, como mineral irresoluto. Ela estava vasculhando por algo, um livro que a contasse o segredo do universo mas que fosse leve como o céu.  E havia aquela canção japonesa não a deixava em paz, ressoava na cabeça dela, a música que falava sobre "florescer com rancor": O desabrochar da flor, pede à Deus e reza. O mundo em que vivo, minha existência: são desalentadores, mas o sonho não morre. Floresce com rancor.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sobre o ser mulher - parte I





"Revolto-me, logo existo."

Albert Camus


Se as pessoas ainda criticam o feminismo, foi porque pouco o entenderam. Se, as próprias mulheres ainda não entenderam o feminismo, foi porque ainda pouco o criticaram. O feminismo, em sua verdadeira essência, não existe para aniquilar o homem - enquanto ser humano - ou promover uma supremacia feminina no mundo. O feminismo é uma contestação da moral e do julgamento de valores que exercem predominantemente e inconscientemente influência nas nossas vidas. É fato conhecido de todos nós que existe uma discriminação misógina no mundo como um todo, quer isso seja ou tenha sido provocado pela cultura do próprio país, isso foi criado através de uma leitura de mundo equivocada: o machismo em si, é uma tolice. A cultura esconde as partes diferentes dos seres humanos, impondo um tipo de comportamento cheio de estereótipos e segregando os comportamentos alheios à esse mesmo esteriótipo estabelecido. Como influência, temos a predominância de certas religiões que centram o poder de suas células no homem, sexo masculino, e tratando a mulher, sexo feminino, como complemento - um adjunto, um termo quase-não-essencial.
Para poder entender esses valores que foram sendo repetidos exaustivamente durante centenas de anos pelas culturas humanas, é preciso ter um bom domínio sobre a história da humanidade. Porém, fazê-lo na contemporâneidade é também atribuir à história antiga um julgamento de valor. É preciso utilizar, também, a crítica em si próprio e antes de olhar para trás, observar o nosso próprio tempo. Retomando uma sentença de Sartre, ele nos diz que "Não é o que fazemos de nós, mas sim o que nós fazemos com aquilo que fizeram de nós...". Isso me parece razoavelmente aplicável em nossa situação: Será possível que uma mulher que realiza um mesmo trabalho que um homem, tenha que receber um menor salário porque apenas é mulher? Será que um homem não pode ser um bom "pai-mãe" só porque é apenas um homem? Esses exemplos superficiais servem apenas para ilustrar o quão arraigados em nós estão esses preconceitos - no sentido pleno de conceito pré-estabelecido - e o quanto os utilizamo-nos deles sem pensar. Por que um enfermeiro é um médico frustrado? Porque um arquiteto é tido como um igualmente frustrado engenheiro? 
Assistindo ao filme "Brüno", interpretado pelo ator e historiador Sacha Baron, onde suas linhas de pesquisa são sobre os preconceitos do mundo atual, percebemos, claramente o que ele quer nos mostrar - com humor, diga-se de passagem:
O personagem é homossexual - gay. Por consequência, ele é austriáco. Ele trabalha com moda, ele usa gloss, ele apresenta um programa de tv, ele se veste diferente. Essas características foram suficientes para determinar sua discriminação.
Quando se nasce do sexo feminino, sofre-se uma proteção automática: você tem que estudar, você tem que chegar cedo em casa, cuidado pra não engravidar, não tenha muitos amigos homens, lave o cabelo com shampoo, pinte as unhas, faça xixi sentada.
Querer igualdade não tem nada a ver com imbecilidade ou falta de educação de ninguém. Igualdade de direitos não é "foda-se, façá só". As pessoas sabem de algumas coisas e não sabem de outras. Ponto. Você tem direito a ser respeitado em suas limitações, e não discriminado. Você tem o mesmo direito de ser diferente, assim como o outro tem o mesmo direito. Você tem direito de reclamar de algo que não goste, caso você queira expressar sua opinião e tem o direito de ser ouvido(a). Igualdade de direitos geralmente é entendida de maneira equivocada. Se você tiver com a mão cheia de coisas e for um cara, eu te ajudo, eu abro a porta pra você. Então, sua mão não vai cair se você fizer o mesmo. Você não tem a obrigação de me servir, meu bem. Você só faz se quiser, se achar que a pessoa em questão - homem ou mulher - mereça sua consideração para tanto.

Bem, essa é a  primeira parte de duas ou três. =)

sábado, 12 de junho de 2010

A rotina da criatividade

Tão pouco!
Já presenciara tudo o que havia de ver.
Depressa!
Já não se importava com o passar do tempo, Cronos era seu amigo.
Ia gesticulando vagarosamente, livrando-se das moscas.


Caía a noite, as estrelas estavam impávidas como sempre.
As murissocas sussurravam alguma coisa degustando o sangue alheio.
Ah, eram tantas!
Sem jamais contá-las, sem jamais perdê-las, sem jamais.


Escolheu um peso.
Escolheu uma medida.
Escolheu uma altura.
Tudo qualquer.
Deitou-se.
Fechou os olhos.
Cruzou os braços.


Partiu.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Assobiar

Circulando espirais,
girando, circunspecto;
tangente e incerto.


Pegasus transcendental,
ybáca despedaçando-se:
cacos, pedaços, gotas,
fragmentos, lascas, poeira,
pó, pó-de-pó.


Homo Infimus,
contingente do caos,
humanidade sexagenária:
dançando sob-sobre o infinito.


Cordas bambas,
borboletas no olho do furacão:


- Meu coração.

Labirintos Lemnicastos

Talvez um longo silêncio favoreça
a minha força:
- Ela vem do grito. Do grito histérico,
do medo profundo, da revolta do descaso,
da alegria não consumida, das memórias 
sagradas.

Minha força é tão fraca, tão ostracista,
impunemente-fraca: não necessária.
Não quero força - dai-me vida.

(Thaynah Leal)



From where I stand

The truth isn't black and white

Alone we live and die
We love and fight
Breath after breath
we carry this mortal coil
Safe for tomorrow



[duran duran - breath after breath]

sábado, 5 de junho de 2010

Um diálogo entre Brauer e Nietzsche


"Serás para teu amigo ar puro e solidão, pão e reconforto? Há quem não possa desatar suas próprias correntes, mas para o amigo se tornou um libertador. És escravo? Então não podes ser amigo. És tirano? Então não podes ter amigos."
(
Assim falava Zaratustra)




- E a tristeza nas lágrimas?
- Não, não é tristeza. É um alívio. É a primeira vez que revelo minha solidão. Está se dissolvendo. Está se dissipando.
- É o paradoxo: O isolamento só existe no isolamento. Uma vez compartilhado, se evapora. Meu querido amigo.
- Somos amigos. Gosto de dizer isso. Ninguém nunca me disse isso. Eu gosto disso.

When Nietzsche Wept

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lira dos meus 19 anos




"Mariposa en el aire de la muerte (...)
 [Juana de Ibarbourou]



Ah! Quanto inda me falta viver?
Cheguei até aqui porque percorri
grandes e densas veredas sinuosas.

Quantos pôres-de-sol hei de ver,
e quantos nasceres de lua hei de
prestigiar, antes que minha vida 
venha a se findar?

Sou traída e denunciada por ser
humana, descriminada por ser mulher.
Não quero contabilizar o milênio que 
não vingou na trama bronzear neural dos
imprescindivelmente anacrônicos.

Quanto ainda me falta para voar?
Quando poderei desvencilhar meus pés
do chão, e arremessá-los contra os céus?

Lira dos meus 19 anos, quantas guerras não vivi,
mas, por quantas lutei para que não viessem?
Anos noventa, noventa vezes de marasmo e lentidão social.

O impossível tem exigido o real,
minha desventura é pelo egoísmo subjetivo,
minha agonia é a anti-dialética mundial.

Vagueio por entre pessoas contemporâneas,
onde estarão as pessoas que pensam no futuro?

Ah! Quanto ainda terei de ver?
Quanto ainda terei de viver?

Minhas cáries doem, meu dentista trata
meus dentes com xilócaina.
É preciso manter os dentes firmes e a mordida
pré-preparada.

"O amor comeu meu medo da vida e da morte...",
disse João Cabral.

Eu repito.
Eu acredito.

(Thaynah Leal)