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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lira dos meus 19 anos




"Mariposa en el aire de la muerte (...)
 [Juana de Ibarbourou]



Ah! Quanto inda me falta viver?
Cheguei até aqui porque percorri
grandes e densas veredas sinuosas.

Quantos pôres-de-sol hei de ver,
e quantos nasceres de lua hei de
prestigiar, antes que minha vida 
venha a se findar?

Sou traída e denunciada por ser
humana, descriminada por ser mulher.
Não quero contabilizar o milênio que 
não vingou na trama bronzear neural dos
imprescindivelmente anacrônicos.

Quanto ainda me falta para voar?
Quando poderei desvencilhar meus pés
do chão, e arremessá-los contra os céus?

Lira dos meus 19 anos, quantas guerras não vivi,
mas, por quantas lutei para que não viessem?
Anos noventa, noventa vezes de marasmo e lentidão social.

O impossível tem exigido o real,
minha desventura é pelo egoísmo subjetivo,
minha agonia é a anti-dialética mundial.

Vagueio por entre pessoas contemporâneas,
onde estarão as pessoas que pensam no futuro?

Ah! Quanto ainda terei de ver?
Quanto ainda terei de viver?

Minhas cáries doem, meu dentista trata
meus dentes com xilócaina.
É preciso manter os dentes firmes e a mordida
pré-preparada.

"O amor comeu meu medo da vida e da morte...",
disse João Cabral.

Eu repito.
Eu acredito.

(Thaynah Leal)

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