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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Do Sono

Dentro do ônibus eu podia imaginar tudo de maneira irrestritamente diferente: o tempo, a velocidade, as existências. Percorri tudo com os olhos e a trama bronzear neural, decidindo o que selecionaria para uma história. Um recorte da realidade não superficial que eu iria talhar, aos poucos, diante de uma máquina, letra por letra, sintaticamente ligados, semanticamente ilusórios.
A gota do suor descia pelo meu rosto, fazendo cócegas nas minhas bochechas enquanto o vento contra-janela fazia a gota esgueirar-se pelo meu pescoço. Não dá pra descrever isso aqui, passo para o próximo parágrafo.
As silhuetas dos transeuntes faziam conjunto com as paredes cotidianas das ruas, a as silhuetas das ruas, e a silhueta das silhuetas se mostrava.
Quando dei por mim, acabara de acordar no Cáis de Santa Rita: de boca aberta, sem nenhuma palavra, limpei os resquícios de saliva envolta da boca.
Ademais era hora de descer, caminhar pelas ruas e ser também silhueta de silhueta.

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